sábado, 26 de novembro de 2011

Sônia me negou um sorriso

O pai dela era todo bondoso e tímido. Sônia o chamava de paizinho. Nós éramos amigos e brincávamos muito, o dia inteiro. Éramos unha e carne. Mas depois, ainda nessa época, ela se fechou. Um dia, subíamos a goiabeira do quintal da casa deles, quando o pai chegou do trabalho. Todo nervoso chamou Sônia para dentro e me fez pular a cerca que separava nossos quintais. Trancou a porta e ligou a vitrola no último volume. Ele era fãn do Nelson Gonçalves e, na maior altura, pôs “Negue”. Foi a primeira vez que a ouvi. Entre uma palavra e outra da música, eu escutava os gemidos de Sônia. Ela parecia apanhar, ou coisa assim. Gemia desconfortada, essa era a impressão. Como se estivesse incomodada. Escondido atrás das bananeiras, eu a vi sair um tempo depois, com a cara encharcada de lágrimas. Depois desse dia, ela se fechou e nunca mais sorriu pra mim.

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