domingo, 18 de novembro de 2012

O que será meu "último poema"?
O que lhe dará vida, à beira de minha morte?
Qual será  A PALAVRA?
E palavra, haverá?

Aviso desde agora a quem o ler:
Se for de perguntas
Não tente nunca responder

Será, pois, como todos os outros,
Feito para ninguém, mas para ser
E apenas ser

Ainda que não seja
O que agora está sendo lido,
Sinto que meu último poema será
À beira de minha morte vivido

O derradeiro sopro
De tudo que em mim existia
Será ele mesmo palavra e poesia

Desejo apenas que eu seja alegre
E esperançoso no instante último
Porque me permite a arte
A lógica do absurdo







sábado, 17 de novembro de 2012

leio qualquer poema
com medo e esperança
de salvação

a qual me é sempre desconhecida
mal e bem vinda

como canção na memória
que alegra entristece ou apavora





enterraram-na
e tempo nenhum tive eu
de vivê-la

sei que foi mãe de Nina
que me contou causos
me alegrou e carinhou

tudo ligeiro, mas sem querer que fosse

para mim, enterraram-na viva
e tempo nenhum tive eu
de morrê-la

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

quero estar com o tempo e com as dores
como quem gira numa ciranda
entra no meio da roda
e protagoniza a sempre brincadeira






quinta-feira, 15 de novembro de 2012

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

"ONDE ANDARÁ DULCE VEIGA?" - um romance de Caio Fernando Abreu, pela primeira vez publicado em 1990.

Inesperadamente, como tantas coisas na vida de tanta gente - inesperadamente, de alguém de fato inesperado, recebi uma ligação desesperada. Um amigo que alvoroçado dizia ter me encontrado num filme. Era que, exatamente nesse instante, eu estava perdido -  num ônibus indo não sei pra onde, pensando em voltar-continuar-voltar-seguir-voltar-romper-me-continuar-me-parar-me, eu estava perdido - mais claro impossível.

Ele disse: "ONDE ANDARÁ DULCE VEIGA?", Tiaguinho! Assista-o, por tudo o que lhe é sagrado - assim mesmo - de um modo intenso ele me suplicou, em que muitos poderiam chamar de dramático, exagerado eu chamo - depois de tudo - eu chamo: pungente. Assim são meus amigos: pungentes. Assim sou eu. Embora tantas vezes entre lágrimas e gritos tenha desejado no fundo de uma pequena poça de sanidade/ ou consciência que permanece em mim ainda nessas horas, um pouco de serenidade na vida, permaneço pungente e, cotidianamente pulsante. Perguntei-lhe: Wesley, é baseado no romance do Caio Fernando Abreu? Mais uma vez, intenso e pungente, ele respondeu: Sim! Assista-o hoje!

Era pra pedir emprestado a outra amiga o filme, como ele mesmo me indicou. Mas a necessidade que tive foi de quebrar um orgulho idiota de achar que já tinha lido suficientemente o C.F. Abreu. Decidi lê-lo porque a necessidade era de lê-lo. Palavras me revelam mais - pensei - era um milagre iminente talvez. O universo cooperando pra algo grande e especial. Um encontro no caos talvez - uma coisa grande e especial.

Sem mesmo ter o livro nas mãos, sem ter lido se quer uma linha, pronunciava em pensamento - ONDE ANDARÁ DULCE VEIGA? - não era o nome do livro que repetia, era um questionamento sobre alguma coisa distante - dizia para o universo inteiro, em pensamento, o não dito. ONDE ANDARÁ DULCE VEIGA? hein, onde andará?

Comecei a lê-lo com esperança. Com a velha esperança minha de não sei o quê.

Nas primeiras páginas A Identificação com o narrador personagem no trecho que segue:

"Ergui a cabeça para as manchas cada vez mais douradas do crepúsculo, e foi nesse momento que a vi, incendiada de prata, um pouco acima da faixa violeta sobre o edifícios mais altos, a primeira estrela, devia ser Vênus. Primeira estrela que vejo, lembrei, realiza o meu desejo, pulávamos amarelinha riscada com pedaços de tijolo pelas calçadas do Passo da Guanxuma, eu sempre queimava o limite do céu na hora de dar o giro de costas, num salto, olhos fechados, sete vezes repetir, olhos abertos presos na estrela até fazer o último pedido, depois não olhar mais para cima. Parado entre quatro esquinas, a primeira estrela à minha esquerda, o arco-íris à direita, de frente para a cidade, de costas para o parque, respirei fundo o ar lavado pela chuva e pedi. Pedi sete vezes em voz alta, não havia ninguém por perto para olhar e talvez rir, um homem não muito jovem, todo molhado, falando sozinho, pedindo não sabia o quê.

Força e fé, que tinha perdido, eu pedi"

Esquecido tinha de como são bonitos os escritos do Caio F. Abreu e de como  lia-o com vontade há anos atrás. Esqueci-me, é fato, de como simplesmente tinha eu VONTADE. Ou vontade simplesmente - flutuante mas presente sempre e sempre em meus pensamentos  - ligeira e marcante... v...o...n...t...a...d...e...

Terminei-o com algo novo: um pensamento novo, ainda não decifrado, da velha esperança de não sei o quê.

Era necessário registrar a leitura aqui. Sem pretensão de escrever a respeito do romance. Sem ousar dizer o paradeiro de Dulce.

Obrigado, W.P.C.
E onde estiver, DULCE VEIGA, obrigado também.
Para vocês, a alegria, simples e doce.

T.O.





A fraqueza que produz a cabeça forte
é como implosão sem prenúncio
A fraqueza que produz a cabeça fraca 
é explosão exaustivamente anunciada

São fraquezas ambas.
São cabeças ambas.



T.O




quarta-feira, 7 de novembro de 2012


há uma canção nas madrugadas
minha cabeça-tambor dá ritmo
a um batuque de fantasmas

segunda-feira, 5 de novembro de 2012


teu coração é um jardim longícuo
ao redor, muralha pedregosa ramos espinhosos

eu-beija-flor-eu-passarinho
tão perto estivesse

sangro nos ramos pontiagudos
e penhascos de meu próprio peito

em algum lugar, entre nossas rochas e espinhos,
haveria uma porta entre-aberta?

Arte de Amador

li que arte abstrata é mais intuitiva e emocional
do que intelectual

quando ouso a pintar um rapaz nu,
ser recorrente em minhas telas,
não lhe pretendo formas absurdas
nem dimensões extremadas
quero-o apenas nu
que é o que veem meus olhos de pintor aprendiz e amante amador

pintar-lhe a alma?
que tentativa idiota de abstração...

seu corpo em pele e pelos, sombras e luzes -
delírio intelectual de pintor aprendiz e amante amador

domingo, 4 de novembro de 2012