terça-feira, 29 de novembro de 2011

Resignação



Os automóveis sumiram da face da Terra. As pessoas todas se esconderam no ermo de alguma galáxia não descoberta. Silêncio. Nada se permitia ser ouvido quando, no quarto, um Cristo pálido fitava os olhos na parede a sua frente, na cabeceira da cama a cinco palmos de distância abaixo de si e na gravura desbotada de uma cidade arbórea, sustentada por um abajur sobre o criado mudo. O buraco escuro nas costelas, ao qual fora condenado quando lhe fincaram a lança, comia lento e crônico seu pequeno corpo antigo. As pontas dos dedos dos pés, frágeis e corroídas, desnudavam a carne vermelho amarronzada, a carne dura que se desfazia com o toque do tempo. Ali, com a alma presa no barro, com a cara clemente e disforme, o cristo morria há décadas, aguardando a redenção.

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