quarta-feira, 12 de dezembro de 2012


Levantava de manhã potro recém parido
Rompente
O que vai ser agora?
Ele se foi
E de mim roubou coisa que não desvendo

Há pingos de sangue no chão...
Manchas vermelho-ferrugem 

Ontem à noite, gritei com a falta
Do teu jeito de entrecortar minha cólera com carinho.

Neste instante, a lua paira sobre mim,
Gorda pesada sábia.

Não demora e é madrugada
Amanhã de manhã
O Sol furioso derreterá meu coração



quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

domingo, 18 de novembro de 2012

O que será meu "último poema"?
O que lhe dará vida, à beira de minha morte?
Qual será  A PALAVRA?
E palavra, haverá?

Aviso desde agora a quem o ler:
Se for de perguntas
Não tente nunca responder

Será, pois, como todos os outros,
Feito para ninguém, mas para ser
E apenas ser

Ainda que não seja
O que agora está sendo lido,
Sinto que meu último poema será
À beira de minha morte vivido

O derradeiro sopro
De tudo que em mim existia
Será ele mesmo palavra e poesia

Desejo apenas que eu seja alegre
E esperançoso no instante último
Porque me permite a arte
A lógica do absurdo







sábado, 17 de novembro de 2012

leio qualquer poema
com medo e esperança
de salvação

a qual me é sempre desconhecida
mal e bem vinda

como canção na memória
que alegra entristece ou apavora





enterraram-na
e tempo nenhum tive eu
de vivê-la

sei que foi mãe de Nina
que me contou causos
me alegrou e carinhou

tudo ligeiro, mas sem querer que fosse

para mim, enterraram-na viva
e tempo nenhum tive eu
de morrê-la

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

quero estar com o tempo e com as dores
como quem gira numa ciranda
entra no meio da roda
e protagoniza a sempre brincadeira






quinta-feira, 15 de novembro de 2012

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

"ONDE ANDARÁ DULCE VEIGA?" - um romance de Caio Fernando Abreu, pela primeira vez publicado em 1990.

Inesperadamente, como tantas coisas na vida de tanta gente - inesperadamente, de alguém de fato inesperado, recebi uma ligação desesperada. Um amigo que alvoroçado dizia ter me encontrado num filme. Era que, exatamente nesse instante, eu estava perdido -  num ônibus indo não sei pra onde, pensando em voltar-continuar-voltar-seguir-voltar-romper-me-continuar-me-parar-me, eu estava perdido - mais claro impossível.

Ele disse: "ONDE ANDARÁ DULCE VEIGA?", Tiaguinho! Assista-o, por tudo o que lhe é sagrado - assim mesmo - de um modo intenso ele me suplicou, em que muitos poderiam chamar de dramático, exagerado eu chamo - depois de tudo - eu chamo: pungente. Assim são meus amigos: pungentes. Assim sou eu. Embora tantas vezes entre lágrimas e gritos tenha desejado no fundo de uma pequena poça de sanidade/ ou consciência que permanece em mim ainda nessas horas, um pouco de serenidade na vida, permaneço pungente e, cotidianamente pulsante. Perguntei-lhe: Wesley, é baseado no romance do Caio Fernando Abreu? Mais uma vez, intenso e pungente, ele respondeu: Sim! Assista-o hoje!

Era pra pedir emprestado a outra amiga o filme, como ele mesmo me indicou. Mas a necessidade que tive foi de quebrar um orgulho idiota de achar que já tinha lido suficientemente o C.F. Abreu. Decidi lê-lo porque a necessidade era de lê-lo. Palavras me revelam mais - pensei - era um milagre iminente talvez. O universo cooperando pra algo grande e especial. Um encontro no caos talvez - uma coisa grande e especial.

Sem mesmo ter o livro nas mãos, sem ter lido se quer uma linha, pronunciava em pensamento - ONDE ANDARÁ DULCE VEIGA? - não era o nome do livro que repetia, era um questionamento sobre alguma coisa distante - dizia para o universo inteiro, em pensamento, o não dito. ONDE ANDARÁ DULCE VEIGA? hein, onde andará?

Comecei a lê-lo com esperança. Com a velha esperança minha de não sei o quê.

Nas primeiras páginas A Identificação com o narrador personagem no trecho que segue:

"Ergui a cabeça para as manchas cada vez mais douradas do crepúsculo, e foi nesse momento que a vi, incendiada de prata, um pouco acima da faixa violeta sobre o edifícios mais altos, a primeira estrela, devia ser Vênus. Primeira estrela que vejo, lembrei, realiza o meu desejo, pulávamos amarelinha riscada com pedaços de tijolo pelas calçadas do Passo da Guanxuma, eu sempre queimava o limite do céu na hora de dar o giro de costas, num salto, olhos fechados, sete vezes repetir, olhos abertos presos na estrela até fazer o último pedido, depois não olhar mais para cima. Parado entre quatro esquinas, a primeira estrela à minha esquerda, o arco-íris à direita, de frente para a cidade, de costas para o parque, respirei fundo o ar lavado pela chuva e pedi. Pedi sete vezes em voz alta, não havia ninguém por perto para olhar e talvez rir, um homem não muito jovem, todo molhado, falando sozinho, pedindo não sabia o quê.

Força e fé, que tinha perdido, eu pedi"

Esquecido tinha de como são bonitos os escritos do Caio F. Abreu e de como  lia-o com vontade há anos atrás. Esqueci-me, é fato, de como simplesmente tinha eu VONTADE. Ou vontade simplesmente - flutuante mas presente sempre e sempre em meus pensamentos  - ligeira e marcante... v...o...n...t...a...d...e...

Terminei-o com algo novo: um pensamento novo, ainda não decifrado, da velha esperança de não sei o quê.

Era necessário registrar a leitura aqui. Sem pretensão de escrever a respeito do romance. Sem ousar dizer o paradeiro de Dulce.

Obrigado, W.P.C.
E onde estiver, DULCE VEIGA, obrigado também.
Para vocês, a alegria, simples e doce.

T.O.





A fraqueza que produz a cabeça forte
é como implosão sem prenúncio
A fraqueza que produz a cabeça fraca 
é explosão exaustivamente anunciada

São fraquezas ambas.
São cabeças ambas.



T.O




quarta-feira, 7 de novembro de 2012


há uma canção nas madrugadas
minha cabeça-tambor dá ritmo
a um batuque de fantasmas

segunda-feira, 5 de novembro de 2012


teu coração é um jardim longícuo
ao redor, muralha pedregosa ramos espinhosos

eu-beija-flor-eu-passarinho
tão perto estivesse

sangro nos ramos pontiagudos
e penhascos de meu próprio peito

em algum lugar, entre nossas rochas e espinhos,
haveria uma porta entre-aberta?

Arte de Amador

li que arte abstrata é mais intuitiva e emocional
do que intelectual

quando ouso a pintar um rapaz nu,
ser recorrente em minhas telas,
não lhe pretendo formas absurdas
nem dimensões extremadas
quero-o apenas nu
que é o que veem meus olhos de pintor aprendiz e amante amador

pintar-lhe a alma?
que tentativa idiota de abstração...

seu corpo em pele e pelos, sombras e luzes -
delírio intelectual de pintor aprendiz e amante amador

domingo, 4 de novembro de 2012

sábado, 27 de outubro de 2012

eu vi despedaçados num sonho
gente de vida explodida
vi vela se apagar e neguinho fechar os olhos
mas vi quem morreu de vida
quem do tempo virou irmão
matéria de memória
a cor do olho que fica
a palavra no mar do canto da boca
à deriva

quem morre de vida morre mesmo?
ou vira festa,
celebração do coração, o seu disparar?
por onde vai morar?

uma língua solta no mundo
escrevia que a vida explodida é doída
mas é vida
ainda que morta grita: VIVA!






quarta-feira, 24 de outubro de 2012

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Nadica de Nada


Roda e vira eu vou ao centro
Fazer nada
Nada é tão gostoso no centro
Cheiro de passarinho molhado no ar
Será que ele faz nada lá no céu também,
Enquanto voa?
Tem gente que nem idéia tem de fazer nada
Pensam que nada é pouco
Que nada é nada
Nada é muita coisa
O passarinho existe pra fazer nada
Eu faço nada pra existir
Faço nada no centro
Vou lá só pra isso
Pra sentir cheiro de suor de passarinho
E fazer nada
Nada é tão simples e complexo
Nada é do tamanho do universo
Só eu e o passarinho bem sabemos
Qual é a do nada
Isso é coisa nossa
O bichinho canta um canto que só ele entende
E aí canta nada o tempo todo em segredo
Eu falo uma fala que dela só entende eu
Mas nós nos entendemos, nadamente
E isso nos basta
Voa, passarinho
Pro longe
Pro dentro do espaço
Que por aqui eu vou fazendo um nada
Cada vez mais vasto

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

As noções que eu tinha de sensatez e moralidade se esvaíram no tempo
Ajo como quem nada aprendeu com as experiências
Meu medo cresce e diminui a depender da ansiedade
Odeio a madrugada que agora faz sentido pra mim
Que era antes noite estendida e sonho infantil

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quinta-feira, 5 de julho de 2012

são 22:25

...são 22:25. Penso que devo amar a brutalidade do dia, a parte bruta do cotidiano, aquilo que neguinho pensa que é a fantasia, mas não passa da amarga/fria realidade. Essa porção do dia é o negócio da poética é meu senhor? Eu tenho pra mim que é... Eu que disse "eu não tenho que nada!" - Eu tenho que amar. Eu - tenho- que- amar. Chupei essa manga. O psicanalista me perguntaria: e tem que amar a brutalidade do dia, sua porção mais bruta? Só entende quem sente, meu senhor. Não pense que digo isso quando digo isso. Eu tô dizendo é outra coisa. E o sexo é sagrado - espero que não seja estúpido em pensar que me refiro à procriação. O sexo é sagrado - isso é muita coisa, meu senhor. Lambeste um buraquinho da vida, lambeste? Já deixou que ela lhe esporrasse toda a cara alguma vez? Chupaste, em toda a sua existência, a vara de um morador de rua, chupaste? E a de um trabalhador maneta? E a auto-felação, praticaste? Alguma vez deitaste na cama como a parte interna da ostra sem o seu exoesqueleto, toda exposta, toda vulnerável, esperando o sal e o limão?Fiz nada disso por amor, eu fiz amando... 

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Rilke


      Ao cotidiano bruto, real, ordinário... é necessário dispor-lhe ainda mais amor.
      ...
           

quarta-feira, 13 de junho de 2012

ESPEJOS


"Nos ocurre antes de nacer. En nuestros cuerpos, que empiezan a cobrar forma, aparece algo parecido a las branquias y también una especie de rabo. Poco duran esos apéndices, que asoman y caen. 
Esas efímeras apariciones, ¿nos cuentan que alguna  vez fuimos peces y alguna vez fuimos monos? ¿Peces lanzados a la conquista de la tierra seca? ¿Monos que abandonaron la selva o fueron por ella abandonados? 
Y el miedo que sentimos en la infancia, miedo do de todo, miedo de nada, ¿nos cuenta que alguna vez tuvimos miedo de ser comidos? El terror a la oscuridad y la angustia de la soledad, ¿nos recuerdan aquel antiguo desamparo? 
Ya mayorcitos, los miedosos metemos miedo. El cazado se ha hecho cazador, el bocado es boca. Los monstruos que ayer  nos acosaban son, hoy, nuestros prisioneros. Habitan nuestros zoológicos y decoran nuestras banderas y nuestros himnos". (Texto: Edades, do livro Espejos, de Eduardo Galeano)