sábado, 29 de junho de 2013

Todo o resto que diferença faz quando não se ama?





Aos poucos, estou me acostumando à ideia de que, no decorrer da minha vida, perderei meus pais e meus amigos, ou que eles me perderão. Não será fácil me acostumar definitivamente a essa ideia já que (fazendo minhas as palavras de Bartolomeu Campos de Queirós) não é com delicadeza que se desfaz o laço que nos une à mãe, e aí penso que assim também ocorre com os amigos. Há de se ter sempre sangue e lágrimas. Mas eis que lendo o "Patrimônio" do Philip Roth, em que ele narra os últimos dias do pai enfermo com um tumor enorme que sufoca o cérebro, ele revela o comportamento heroico do pai para consigo mesmo, ainda que definhando e com a certeza de que nada o livrará das agruras daquela condição e de que nada o livrará da morte, não de uma morte não sentida, mas de uma morte em que se sente se aproximando o fim, aos poucos, da forma mais dolorida. No meio do livro o Roth filho pergunta, ao telefone, a uma amiga antiga que tal qual o Roth pai, tinha a capacidade de sobreviver, a inteligência de sobreviver: "Sei qual é a origem das fraquezas das pessoas, todos nós sabemos, mas de onde vem a força?" Parei por enquanto a leitura porque me foi revelado algo de extrema importância. Por isso parei e vim aqui compartilhar com meus amigos e minha família tal revelação: Da vontade de viver, pensei, da vontade de enfrentar o que me dá a vida, de encará-la. Ou será que da fé? Da crença em si mesmo, da crença em um Deus, ou da fé em si mesmo, pura e simplesmente? ou da autoestima, como disse a amiga do Philip? Eu vejo que, seja fé, crença em alguém ou em alguma coisa, seja a vontade de viver, qualquer uma dessas coisas, são coisas que existem unicamente em pensamento. Nada disso existe personificado ou materializado, mas mesmo assim existem em pensamento, de algum modo construídas, inventadas, criadas, imaginadas, mas todas essas coisas existem apenas em pensamento e não apenas, elas dinamizam a vida, elas movem qualquer um que se deixar ser movido ao mesmo tempo em que faz uso delas, consciente ou inconscientemente. É DO QUE NÃO EXISTE ou do existe só em pensamento que extraímos nossas forças. E ISSO é grande demais! Isso é GRANDE DEMAIS! É disso que extraímos nossas forças. É da fé, da vontade de que tudo seja diferente que extraímos a força que dinamiza nossas íntimas revoluções, nossos auto-salvamentos! Que alívio que vez ou outra me vem certas revelações, que sempre estiveram em meus pensamentos mas que, com freqüência, as esqueço. Recomendo o livro citado e também o "Vermelho Amargo" do Bartolomeu. Dilacerantes mas como tudo o que é dilacerante: cheios de vida, cheios de lembranças e esquecimentos.

Ainda que seja talvez clichê a ideia ou medo fixo de perder quem eu amo, isso me faz ressignificar a vida e dessa ressignificação dos meus sentidos de existência eu nunca abrirei mão. Que venha o ordinário despertar. 

É isso que me dinamiza e é isso que me ajuda seguir vivendo. E "a coisa mais importante do mundo é o sentimento", bem disse Adélia Prado. 

Todo resto, todo o resto que diferença faz quando não se ama?

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