segunda-feira, 12 de novembro de 2012

"ONDE ANDARÁ DULCE VEIGA?" - um romance de Caio Fernando Abreu, pela primeira vez publicado em 1990.

Inesperadamente, como tantas coisas na vida de tanta gente - inesperadamente, de alguém de fato inesperado, recebi uma ligação desesperada. Um amigo que alvoroçado dizia ter me encontrado num filme. Era que, exatamente nesse instante, eu estava perdido -  num ônibus indo não sei pra onde, pensando em voltar-continuar-voltar-seguir-voltar-romper-me-continuar-me-parar-me, eu estava perdido - mais claro impossível.

Ele disse: "ONDE ANDARÁ DULCE VEIGA?", Tiaguinho! Assista-o, por tudo o que lhe é sagrado - assim mesmo - de um modo intenso ele me suplicou, em que muitos poderiam chamar de dramático, exagerado eu chamo - depois de tudo - eu chamo: pungente. Assim são meus amigos: pungentes. Assim sou eu. Embora tantas vezes entre lágrimas e gritos tenha desejado no fundo de uma pequena poça de sanidade/ ou consciência que permanece em mim ainda nessas horas, um pouco de serenidade na vida, permaneço pungente e, cotidianamente pulsante. Perguntei-lhe: Wesley, é baseado no romance do Caio Fernando Abreu? Mais uma vez, intenso e pungente, ele respondeu: Sim! Assista-o hoje!

Era pra pedir emprestado a outra amiga o filme, como ele mesmo me indicou. Mas a necessidade que tive foi de quebrar um orgulho idiota de achar que já tinha lido suficientemente o C.F. Abreu. Decidi lê-lo porque a necessidade era de lê-lo. Palavras me revelam mais - pensei - era um milagre iminente talvez. O universo cooperando pra algo grande e especial. Um encontro no caos talvez - uma coisa grande e especial.

Sem mesmo ter o livro nas mãos, sem ter lido se quer uma linha, pronunciava em pensamento - ONDE ANDARÁ DULCE VEIGA? - não era o nome do livro que repetia, era um questionamento sobre alguma coisa distante - dizia para o universo inteiro, em pensamento, o não dito. ONDE ANDARÁ DULCE VEIGA? hein, onde andará?

Comecei a lê-lo com esperança. Com a velha esperança minha de não sei o quê.

Nas primeiras páginas A Identificação com o narrador personagem no trecho que segue:

"Ergui a cabeça para as manchas cada vez mais douradas do crepúsculo, e foi nesse momento que a vi, incendiada de prata, um pouco acima da faixa violeta sobre o edifícios mais altos, a primeira estrela, devia ser Vênus. Primeira estrela que vejo, lembrei, realiza o meu desejo, pulávamos amarelinha riscada com pedaços de tijolo pelas calçadas do Passo da Guanxuma, eu sempre queimava o limite do céu na hora de dar o giro de costas, num salto, olhos fechados, sete vezes repetir, olhos abertos presos na estrela até fazer o último pedido, depois não olhar mais para cima. Parado entre quatro esquinas, a primeira estrela à minha esquerda, o arco-íris à direita, de frente para a cidade, de costas para o parque, respirei fundo o ar lavado pela chuva e pedi. Pedi sete vezes em voz alta, não havia ninguém por perto para olhar e talvez rir, um homem não muito jovem, todo molhado, falando sozinho, pedindo não sabia o quê.

Força e fé, que tinha perdido, eu pedi"

Esquecido tinha de como são bonitos os escritos do Caio F. Abreu e de como  lia-o com vontade há anos atrás. Esqueci-me, é fato, de como simplesmente tinha eu VONTADE. Ou vontade simplesmente - flutuante mas presente sempre e sempre em meus pensamentos  - ligeira e marcante... v...o...n...t...a...d...e...

Terminei-o com algo novo: um pensamento novo, ainda não decifrado, da velha esperança de não sei o quê.

Era necessário registrar a leitura aqui. Sem pretensão de escrever a respeito do romance. Sem ousar dizer o paradeiro de Dulce.

Obrigado, W.P.C.
E onde estiver, DULCE VEIGA, obrigado também.
Para vocês, a alegria, simples e doce.

T.O.





Um comentário:

  1. Onde quer que ela esteja, a Dulce, um Obrigado imenso, um beijo gigantesco, uma rosa perfumada como esta que explode em cores neste 'blog' tardiamente descoberto, mas penetrativo o suficiente para me deixar aqui, estatelado de emoção e identificação...

    Tiago querido, queria dispor de um terço deste teu "orgulho besta" tão singelo e redigir uma poesia urbana tão profunda quanto esta tua confissão linda, linda, linda...

    Eu que agradeço, meu bem: como disse, enquanto via o filme, sentia teu cheiro e tua presença tátil ao meu lado. Ao ler o livro, intuo que não será diferente, não tem como!

    Há amor e pujança entre nós, Tiaguinho... Muita!

    E, apesar de minha relação titubeante com os belos e irregulares escritos do Caio, aqui, quando ele se mostra numa primeira pessoa homônima e muito bem-vinda, eu me arreganho, me escancaro: beijo infinito, amigo amado!

    WPC>

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